José Fernandes pede mais apoios para o clube Internacional de Almancil quer manter aposta na formação
Postado por
Tózé Baião
on 22 de jun. de 2008
"in Jornal Carteia 26/04/07"
José Fernandes veio para o Algarve em 1963, tinha na altura 11 anos, para trabalhar numa unidade hoteleira. Emigrou depois para os Estados Unidos, tendo-se estabelecido em Almancil em 1989. Mais tarde, decidiu levar a cabo o seu projecto de formação e daí surgiu o Internacional Club Almancil. O Carteia falou com o vice-presidente e responsável pelo departamento de futebol do clube, que revelou os seus projectos e confessou que, se não houver mais apoios, a aposta na formação terá de acabar (entrevista completa na última edição do Carteia - 19 de Abril).
ornal Carteia: Apesar de ser natural do norte, já reside no Algarve há muitos anos e acabou mesmo por formar um clube de futebol em Almancil. Como surgiu o Internacional?
José Fernandes:. Enquanto estive nos Estados Unidos vinha cá todos os anos e acompanhava sempre o clube da minha freguesia. Em 1989 estabeleci-me em Almancil e pediram-me para fazer parte desse clube, o que fiz com muito gosto, mas como cada um tinha as suas ideias, optei por sair. Quando saí, alguns pais da freguesia perguntaram-me como ficava o projecto que eu tinha para os miúdos, para fazer as tais escolas de futebol. Eu disse que havia uma alternativa, que seria criar um clube só para a formação, para colocar os jovens de Almancil a praticar desporto. A ideia partiu daí.
JC: Qual a origem do nome, do emblema e das cores do clube?
JF: A ideia do nome foi minha e teve logo um consenso geral porque, como se sabe, existem em Almancil várias comunidades. Foi uma maneira de lhes dizer sejam bem-vindos, participem connosco, vamos todos praticar desporto e temos muitos jogadores estrangeiros no Internacional. Somos um clube de Almancil para todos os almancilenses, tanto os de cá como os de fora. Aliás, o Internacional está aberto a apoiar todas as crianças da freguesia. Quanto às cores, eu sou do norte e lá todos os clubes usam as cores do concelho. Falei com as pessoas e disse que devíamos pôr as cores do nosso concelho, daí o lilás. É devo dizer que é o único clube em Portugal com estas cores. O emblema fui eu que desenhei, baseando-me na Fiorentina, que também usa o lilás.
JC: Na altura em que o clube foi formado, quantos escalões tinha?
JF: Começámos com os infantis, na 2.ª Divisão Distrital e, no primeiro ano que fizemos uma equipa de escolas B, fomos campeões do Algarve, na época de 2000/2001. Essa equipa de escolas B são hoje os nossos iniciados A, que estão destacados em primeiro lugar na 1.ª Divisão Distrital, com a possibilidade de subir ao nacional. O meu maior desejo é que o Internacional consiga colocar pelo menos uma equipa de formação a disputar o campeonato nacional de futebol. Vamos fazer uma década em Setembro e temos todos os escalões de formação. Actualmente temos 157 atletas federados e entre 40 a 50 que andam na iniciação desportiva. Temos miúdos dos 5 aos 18 anos de idade.
JC: Este ano têm também uma equipa de séniores. Qual a razão dessa aposta?
JF: No princípio desta época só apareceram quatro equipas inscritas no campeonato distrital de juniores da 2.ª Divisão e começou logo a existir um desagrado por parte dos nossos atletas, porque iam estar num campeonato pouco competitivo. O nosso treinador fez-nos uma proposta para que, junto da Associação de Futebol do Algarve (AFA), víssemos qual a possibilidade de deixarmos de participar no campeonato de juniores para participarmos no de séniores da 2.ª Divisão. O único problema foi a nível monetário. Um cliente do meu restaurante disse-me, um dia, que apoiava um clube na República da Irlanda que tinha mais de 600 miúdos e que gastava mais de 60 mil euros por ano com esse apoio. Na brincadeira, perguntei-lhe se ele me podia apoiar no Internacional, porque também tinha muitos miúdos. Expliquei a situação dos juniores e pedi-lhe para patrocinar o clube. Fiz um orçamento e assim consegui verbas para a equipa de juniores participar no campeonato de séniores e ainda sobrou um bocadinho para apoiar a formação. Acabámos também por participar no campeonato de juniores da 2.ª Divisão. Tivemos uma reunião com a AFA para ver se era possível desencontrar os jogos dos juniores com os séniores, para que os nossos atletas competissem nos dois escalões.
JC: Mas essa equipa de séniores é para manter?
JF: Esta situação não foi com o objectivo de fazer séniores, foi simplesmente pelo fraco nível competitivo do campeonato da 2.ª Divisão de juniores, que começou em Novembro e terminou em Dezembro. O que é que os miúdos faziam entretanto? Como nós queremos ocupar o tempo livre dos jovens da nossa freguesia, decidimos, e muito bem, que eles iriam participar também em séniores, mas sem objectivo nenhum, só pelo prazer do desporto. Eles jogaram ao Sábado pelos séniores e ao Domingo pelos juniores e mesmo assim foram campeões em juniores, subindo à 1.ª Divisão. Fizemos um bom trabalho. Para o ano eles já vão competir num campeonato mais competitivo, por isso, não será necessário criar uma equipa de séniores.
JC: E o que vai acontecer aos juniores, visto o Internacional não ter uma equipa sénior?
JF: Essa é uma questão complicada. Temos um grande grupo de juniores e tenho um ‘feeling’ que para o ano seremos candidatos a subir ao nacional. Mas, esses miúdos, quando passarem a séniores, para onde vão jogar? O Internacional é o menos beneficiado com o trabalho que faz. Quem vai ser beneficiado são os clubes mais representativos do concelho. Por isso, acho que, em vez de estarmos uns contra os outros, devia de haver mais união entre os clubes do concelho, para trabalhar para um bem comum. O concelho de Loulé tem um potencial enorme para ter uma equipa na Primeira Liga. Agora, é preciso saber é como se vai lá chegar.
JC: Que apoios recebem?
JF: A Câmara tem um contrato-programa connosco, mas essa verba é absorvida, praticamente, pelo quadro técnico. Temos uma sede social que, só de renda, custa mais de 500 euros por mês. Se as coisas continuarem como até aqui e se os apoios que temos das entidades competentes não forem revistos, teremos de deixar a formação. Se este projecto não for apoiado como deve ser, optaremos por uma equipa de séniores completamente amadora, não com o objectivo de subir, mas para manter estes jogadores que estamos a formar agora em actividade. Esta direcção não tem problema em arranjar verbas, dentro do tecido empresarial de Almancil, para suportar uma equipa de futebol sénior amadora. Tem é grande dificuldade em arranjar verba para manter este projecto de formação, porque é enorme. É preciso que se reveja a forma como se está a apoiar o nosso clube, senão, este trabalho de uma década vai por água abaixo. Faço aqui um apelo ao senhor presidente da Câmara para que nos apoie, que reveja a forma como o clube tem sido apoiado nos últimos anos. Temos todo o gosto em fazer a formação, andamos nisto por amor, mas as pessoas não têm ideia do trabalho e da responsabilidade que isto acarreta.
JC: Ao fim de dez anos, têm quatro títulos conquistados. Qual o balanço que faz?
JF : Os títulos pouco ou nada nos dizem, mas é claro que é sempre gratificante os miúdos ganharem. O nosso maior título é termos um clube organizado, que ao fim de seis anos de existência já tinha o estatuto de utilidade pública. Temos um grupo de trabalho fantástico, os pais, os miúdos, a família, os amigos que se arranja, é isso que nos dá força para trabalharmos.
Bruno Hilário
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